segunda-feira, 4 de junho de 2012

Vinte Linhas 795 - Fonseca e Costa barbaramente agredido ou o BA sem rei nem Roque

Vinte Linhas 795 
Fonseca e Costa barbaramente agredido ou o BA sem rei nem Roque

Já nem o nosso padroeiro São Roque nos vale a nós, habitantes do Bairro Alto – no meu caso desde 1976. A miserável agressão e assalto de que foi vítima o cineasta José Fonseca e Costa quando se dirigia para sua casa à noite no passado sábado prova que os delinquentes sentem no ar um cheiro de impunidade. O Bairro Alto é o único lugar de Lisboa onde a Lei do Ruído não é cumprida, por exemplo. Outro dia um vizinho nosso na Rua das Salgadeiras viu uma equipa que veio medir os decibéis de um «bar» a não ter nada para registar porque nessa noite por acaso o ruído estava normal. Foi uma coincidência, um acaso. O Bairro Alto é o único lugar onde a ASAE não actua. Ninguém sabe porquê mas é a verdade – não actua. Viver aqui é como ter os pés em cima de uma botija de gás. Nunca se sabe quando ela vai explodir.
O Bairro Alto é o único lugar da cidade onde qualquer bandalho pode abrir uma coisa a que chama «bar» e cujo tamanho é inferior ao de uma casa de banho. Por isso esses «bares» não têm casa de banho e os seus «clientes» urinam contra os nossos automóveis e contra as portas dos nossos prédios onde procuramos viver mas onde a CML tudo faz para que estejamos condenados à extinção. O nosso Bairro é o único lugar onde se permite que qualquer borrabotas finge que tem uma loja de T Shirts e pede uma «actividade acessória» dizendo que precisa de um «bar de apoio» ao cliente mas, passado um dia, já só vende bebidas alcoólicas e esquece as T Shirts que são apenas uma marosca. 
Lá para Dezembro alguém vai comemorar o «Dia do Bairro Alto» mas eu pergunto: comemorar o quê? Comemorar a atitude da CML que faz de conta que no Bairro Alto não vivem pessoas? Comemorar a tristeza criada ela ilusão perdida depois da vinda para aqui da esquadra da PSP?

José do Carmo Francisco  


A DEGOLA - testemunho de José Fonseca e Costa

A DEGOLA

Dizem que “vale mais uma imagem do que mil palavras”.
Pouco passava da meia noite quando, a cem metros da minha residência, me encostaram uma navalha de degola à jugular, depois de um golpe de gravata feito com mão de mestre, sendo de seguida atirado ao chão e pontapeado sem dó nem piedade.
Assim começaram para mim as Festas da Cidade neste bairro, onde moro há mais de 40 anos e que a CML insiste em considerar como sendo emblemático, a ponto de fazer a sua propaganda externa designando-o como o bairro da “movida” ignorando que está na sua maior parte transformado numa lixeira, com ruas sujas, escusas e escuras que são uma tentação para os criminosos, de quem a vitima agora fui eu.
A Rua Nova do Loureiro, a minha rua, considerada como uma das mais belas de Lisboa por causa do porte das suas árvores e das flores que pendiam dos muros dos quintais, é hoje uma rua abandonada e triste, onde os empresários do imobiliário actuam a seu bel-prazer, sem a presença da Policia Municipal e na mais total desprotecção de quem nela habita.
Quem manda na CML tem a memória curta: esqueceram-se do incêndio do Chiado. Se um dia o fogo pega numa das casas em gaiola, de madeira oitocentista, o Bairro arde inteirinho.

José Fonseca e Costa
3 de Junho de 2012.